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quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O papagaio que torcia pro Leão

Recife, anos 40. A família do menino Alberto vivia em uma casa espaçosa, erguida em amplo terreno, daqueles cheios de árvores e plantas que os cronistas antigos adoravam descrever. A quilômetros de distância, já se divisava a elegante construção branca. O menino Alberto e seus irmãos passavam longo tempo entre as árvores frondosas do quintal. Tinha mangueira, salgueiro, sapota, limoeiro, murici, roseira e tinha também Orlando Silva, papagaio dado a cantorias, especialmente as modinhas e serestas que os pais de Alberto gostavam de ouvir em 78 rotações. Torcedor do Sport Club do Recife, o pequeno Alberto treinou Orlando Silva a entoar o grito de guerra da torcida rubro-negra naqueles tempos: “Aleguá-guá-guá! Aleguá-guá-guá! Hurra! Hurra! Sport! Sport! Sport!”
Certa tarde, as cantorias cessaram e deram por falta de Orlando Silva. Procura daqui, procura dali e nada. O papagaio escafedera-se. A notícia do sumiço se espalhou pela vizinhança. Um mutirão em busca do papagaio. Nem sinal do louro.
Algumas semanas se passaram e a rotina voltou ao normal. Se Orlando Silva não cantarolava mais serestas, modinhas e os versos que levavam o Leão avante, outros pássaros se encarregavam de preencher o silêncio do jardim com melodias que não deixavam nada a desejar.
Como todo início de mês, chegara a hora de reforçar a despensa. Dona Mariazinha, a mãe do pequeno Alberto, preparou a lista, hábito que repetia há mais de dez anos, e dirigiu-se à mercearia do português Manuel, que a recebeu com o largo sorriso que reservava à dileta freguesia:
-- Ó dona Mariazinha, satisfação em revê-la. O que vai ser hoje?
-- Seu Manuel, eu queria sabão, biscoitos, farinha...
-- Currupaco!
-- O senhor ouviu isso?
-- Não ouvi não, senhora.
-- Bem, como eu ia dizendo, azeite, cebolas...
-- Currupaco!
-- O senhor comprou um papagaio, seu Manuel?
-- Não comprei não, senhora.
-- Currupaco!
-- Tem um papagaio aqui, sim senhor!
-- Dona Mariazinha, deve ser impressão, alguma criança brincando por aí, algum galho de árvore batendo na vidraça, vá se saber.
-- Currupaco!
-- O barulho vem de trás daquela porta, seu Manuel!

Dona Mariazinha deslizou-se lentamente até a porta que separava a área destinada aos fregueses do estoque. Encostou o ouvido na madeira e, tomada por uma certeza definitiva, dirigiu um olhar de repreensão a seu Manuel e começou a cantarolar:
-- Aleguá?
-- Guá-guá! Hurra! Hurra! Sport! Sport! Sport!
Vocês precisavam ver a cara do seu Manuel.


Quando o papagaio Orlando Silva cantarolava o “Aleguá!”, o mar virava sertão e não havia Padre Cícero pra fazer o Santa Cruz ou o Náutico derrotarem o Leão.








Nota da redação do Chapeladas: ficamos sem inserir novos conteúdos todos estes dias porque estamos velhos e esquecemos a senha que dá acesso ao blog. Nossos netos, que poderiam nos ajudar, foram passar as férias na Disneylândia. Enquanto isso, tivemos de ficar na pracinha alimentando os pombos e nos dedicando aos jogos de damas. Também aproveitamos o tempo para zombar da boina do Irineu (o Irineu ainda usa a boina da FEB com a qual lutou em Monte Castelo contra as forças do Eixo!) e pra pichar o João Saldanha, que, dia desses, disse que o Pelé estava cego! A propósito: a UDN já lançou candidato para governador da Guanabara?

Mas o leitor pode ficar tranqüilo. Anotamos a nova senha em um papel e a deixamos embaixo do vidro de xarope São João para que isso não volte a se repetir. Diacho... onde foi que eu coloquei o xarope...

Um comentário:

Rio Nu disse...

ahahahahhahahahahahahaha