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quarta-feira, 25 de abril de 2007

Eu fui Diego Maradona

Sim, meus chapas, este cronista foi Diego Maradona – e não estava louco (e nem era usuário de drogas).

Era 1986. Este cronista tinha uns 10 anos e possuía uma camiseta azul-escura que, um belo dia, depois de lavada, tornou-se justamente azul celeste. Bom, até aí nada de mais, afinal, aos 10 anos azul é azul e ponto final. Só quando a gente é mais velho que os olhos aprendem que as cores possuem outros tons.

Na tarde de um dia que já não me lembro mais, este cronista sentou-se na frente da televisão para torcer contra a Argentina. Sim, meus camaradas: 1986, jogo da Argentina... era mesmo aquele jogo clássico contra a Inglaterra. E narrada por um Luciano do Valle frenético.

Maradona também se transmutou naquele jogo. Ali, ele foi o destino, ao decidir sozinho a alegria de um país e a tristeza de outro. Ao enganar um goleiro, um árbitro e, talvez, um povo inteiro ao marcar um gol com a mão. E ao encantar o mundo inteiro marcando o gol mais bonito de todas as copas.

Depois daquele jogo, guiado por Di Stefáno, este cronista buscou a camiseta azul celeste, que estava no cesto de roupas a lavar (usada no dia anterior). E aí se deu a transformação: a camiseta, ao deslizar pelo corpo deste cronista, foi convertendo-o no craque argentino, e ao assentar definitivamente, fez com que este cronista estufasse o peito, ficasse atarracado, o cabelo se enrolasse e crescesse na nuca e um brinco surgisse na orelha esquerda.

E assim este cronista ganhou a rua. Estavam todos lá, formando os times já, e logo este cronista foi escalado por um dos donos dos times. No meio do campo, que era de asfalto, o mundo apresentava outra perspectiva: agora este cronista era o astro, de andar curto porém determinado, e pronto a fazer arte quando a bola chegasse aos pés.

A bola chegou, e em pouco tempo ficou claro que nem com muita fantasia este cronista poderia ser Maradona, pois seu futebol mal dava para Branco. Mas ainda assim a fantasia reinou, apesar dos xingos dos companheiros de time. Este cronista não driblava, não lançava e, muito menos, fazia gol, e nem de mão.

O time deste cronista perdeu, muito por culpa dele mesmo, e demorou muito para ser escalado novamente. Ficou o desencanto da falta de talento e permanece a admiração pelo argentino. Este cronista considera Diego Maradona um dos três maiores argentinos de todos os tempos, juntamente com Jorge Luis Borges e Carlos Gardel (que não nasceu na Argentina, tudo bem, mas era muito mais argentino do que a trinca de generais que governou o país na ditadura). E este cronista coloca ainda Ernesto Sábato e Daniel Barenboim se lhe permitirem nomear mais dois.

Hoje, a Argentina assiste o seu astro definhar, o país inteiro congelado, petrificado, os olhos postos na clínica onde Maradona está. Há quem critique este comportamento, que Maradona, e qualquer outro jogador de futebol, não merece que um país fique no estado em que está. Ué, este cronista pergunta: e se não chorarmos a morte de um jogador, de um artista realmente talentoso (e não manipulador de mídia), de um escritor, vamos lamentar a de quem? Políticos, militares e economistas (advogados, empresários, jornalistas, blogueiros etc) é que não merecem comoção nacional, por mais puros ou por melhores que sejam.

O mundo só fica mais palatável quando podemos ver um Maradona driblando um time inteiro, quando ouvimos uma música que nos toca diretamente na alma ou lemos um texto que nos abre a mente. O resto é capitalismo, e isso definitivamente não faz o mundo melhor, mais legal ou mais bonito.

E por isso que este cronista acredita que Maradona terá vida eterna: o homem vai, mas os gols ficam, para sempre. Pelo menos para aqueles que foram Diego Maradona, como este cronista.

2 comentários:

Juju disse...

Ainda bem que vc deixou de ser o Maradona antes de ele se tornar o que é...

Anônimo disse...

Maradona morre como um craque. Aliás, todo craque de bola deveria morrer como Almir Pernambuquinho. Em briga de faca, na porta do botequim...

Ou como Heleno de Freitas, de sífilis e louco, em um manicômio...

Agora, preferem virar comentaristas da Band e nos atormentar com bobagens, enquanto o Sílvio Luís tosse...